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O papel das misericórdias na assistência e organização das comunidades

Conferência com Laurinda Abreu (Universidade de Évora) decorreu, esta sexta-feira à tarde, na Igreja da Misericórdia de Barcelos

No âmbito do programa comemorativo do 526.º aniversário da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos (SCMB), a instituição barcelense acolheu, esta sexta-feira, uma conferência de Laurinda Abreu, professora catedrática da Universidade de Évora, que permitiu conhecer "O papel das misericórdias na assistência e na organização local (séculos XVI-XVIII)".

Perante uma plateia atenta e interessada, numa bem preenchida Igreja da Misericórdia, a investigadora destacou, desde logo, que, “além da assistência, as misericórdias tiveram um papel absolutamente extraordinário na organização das comunidades”. “As misericórdias são indiscutivelmente um traço de identidade nacional. Elas fazem parte do nosso património cultural, da nossa memória coletiva, fazem a ligação entre o passado e o presente”, destacou Laurinda Abreu.

As misericórdias surgiram num “contexto de renovação da assistência e da caridade à escala europeia”, num processo que arrancou em 1498, por vontade régia, sendo a Misericórdia de Barcelos “uma das pioneiras deste movimento nacional”. Ao longo dos séculos, as misericórdias resistiram a crises e transformações diversas, sendo que a sua intervenção se estendeu a áreas distintas. Em linha com isso, na conferência destacou-se precisamente a intervenção das misericórdias na área da Saúde, concretamente a relação das misericórdias com os hospitais, classificando-a como ”uma das chaves do sucesso que as misericórdias vieram a ter em Portugal”. A este propósito, Laurinda Abreu evocou os estudos de Ramiro Romão e a referência a 1520, ano em que D. Manuel I entregou o Hospital à Misericórdia de Barcelos.

Outro ponto referido prende-se com a autorização régia, em princípio do século XVII, para o aumento de número de Irmãos – em Barcelos, de 100 para 150 –, evidenciando que “a sociedade civil estava a movimentar-se e a querer pertencer à Misericórdia”.

No encerramento da conferência, o provedor da Misericórdia de Barcelos, Nuno Reis, frisou o impacto das misericórdias na configuração da sociedade portuguesa: “Não é possível olharmos para a evolução da sociedade portuguesa nos últimos mais de 500 anos, sem que esteja também patente o trabalho que, a nível local, cada uma das atuais 388 misericórdias – e das cerca de 90 que existiram e, entretanto, foram extintas – foram desenvolvendo ao longo dos tempos”.

 

Aposta no estudo e investigação

Valorizando “todo um trabalho arquivístico importante que está a ser feito” e a digitalização em curso, Laurinda Abreu lançou o repto à SCMB, desafiando a “estimular o estudo do arquivo histórico, que é muito interessante […] O estudo da documentação parece-me de extrema importância, até porque Barcelos é importante”, como espaço e no estudo comparativo.

A esse propósito, Nuno Reis lembrou as “mais de 50 parcerias com instituições das mais diversas áreas e setores, inclusivamente universidades e politécnicos”. “E estamos certos de que também com a Universidade de Évora haverá possibilidade de estabelecer protocolos ou parcerias, com vista à promoção do conhecimento, que é também uma das missões que abraçamos”, completou, lembrando que, desde 2021, as portas do Arquivo Histórico estão abertas a estudantes e investigadores, bem como à comunidade em geral. “Não será por falta de disponibilidade nossa, numa instituição que cada vez mais procura estar de portas abertas à comunidade, que os estudos não serão feitos”, concluiu o provedor da SCMB.

SCMB_ Conferência_ 07-03-2025_ 01

 


SCM Barcelos, 08-03-2025

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