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E se, de repente, se esquecesse...

E se, de repente, se esquecesse, com frequência, de acontecimentos recentes? E se lhe faltassem as palavras adequadas para se fazer entender? E se, de um momento para o outro, deixasse de apreciar atividades que antes o entusiasmavam?
A demência é associada, frequentemente, a perdas de memória, mas está longe de ser apenas isso. A pretexto do Dia Mundial da Doença de Alzheimer – que se assinala a 21 de setembro – vamos conhecer esta que é a forma mais comum de demência, constituindo cerca de 60% a 70% de todos os casos.
Nuno Sousa é médico, professor e presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, e ajuda-nos a saber mais sobre esta patologia.

A Doença de Alzheimer é caracterizada por um declínio progressivo, que engloba não só a perda de memória, mas acarreta também a perda de outras funções cognitivas (concentração, linguagem, entre outras), competências sociais e a alteração de reações emocionais normais, que afetam, de forma significativa, o dia a dia das pessoas.

A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, pode surgir em qualquer pessoa, mas é mais comum a partir dos 65 anos. De facto, nota Nuno Sousa (foto), “o maior fator de risco para os quadros demenciais, entre os quais a doença de Alzheimer é a mais prevalente, é a idade”. Portanto, há uma “fortíssima correlação entre o aparecimento destes quadros e o aumento da idade”. Ainda assim, sublinha o médico e professor, “esta correlação é sobretudo verdade para aquilo a que chamamos os casos esporádicos da doença”. Isto porque existem formas, muito menos frequentes, que “estão associadas a componentes genéticos mais marcados, portanto, formas familiares da doença”. “Nesses casos, o aparecimento acontece, em regra, em idades mais jovens do que aquilo que é habitual na forma esporádica. Ou seja, existem formas de Alzheimer que atingem pessoas com faixas etárias mais baixas, mas, felizmente, são muito menos frequentes”, explica Nuno Sousa.

Escola Medicina UMinho

(Foto:DR)

A Ciência conhece os mecanismos fisiopatológicos que levam ao aparecimento da Doença de Alzheimer, mas, reconhece o especialista, “ainda sabemos pouco para conseguir montar estratégias de intervenção terapêutica que possam, de facto, ajudar os nossos doentes”. Em termos terapêuticos e farmacológicos, não se consegue tratar a doença, no sentido de resolver por completo o problema. É possível, sim, “retardar o aparecimento dos sintomas e, quando eles aparecem, retardar também a sua progressão”. Se olharmos na perspetiva da prevenção, Nuno Sousa aponta duas medidas: “Se as pessoas tiverem melhor saúde no seu sistema nervoso central - por exemplo, melhor saúde cardiovascular e metabólica -, isso é realmente importante porque retarda, previne, uma parte do aparecimento desta patologia e de outros quadros demenciais. O segundo é um aspeto que tem a ver com algo que chamamos de reserva cognitiva, ou seja, quanto mais ativos do ponto de vista cognitivo estiverem os indivíduos, ao longo da sua vida, mais preparados estão para aquilo que é a deterioração cognitiva”.

Há, depois, um segundo tipo de intervenções, já quando os doentes apresentam sintomas, como forma de retardar a progressão da doença. “Aí existem algumas intervenções farmacológicas, que já deram provas de ajudar no atraso da progressão da doença. Infelizmente, não são totalmente eficazes, mas, de facto, parecem demonstrar algum benefício terapêutico”, entende o professor e investigador da Universidade do Minho.

Os mecanismos que explicam a Doença de Alzheimer incluem, conforme nota Nuno Sousa, três aspetos. O primeiro é “a deposição, fora dos neurónios, de uma proteína, que é a beta-amilóide”. O segundo aspeto é “a deposição de agregados proteicos, dentro dos neurónios, de uma outra proteína, a proteína tau”. Por fim, o terceiro aspeto é resultante dessas deposições, sobretudo as extracelulares, e consiste em “alterações inflamatórias que são importantes nesta doença”. Assim, a ocorrência destes fenómenos leva a alterações, primeiro, nos contactos sinápticos, portanto, na comunicação entre os neurónios, e, mais tarde, à morte desses neurónios, com as consequências que se associam ao Alzheimer.

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Publicado originalmente na edição n.º 46 do boletim "Encontro de Gerações" (outubro de 2019)

 

 


SCM Barcelos, 21-09-2021

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