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Queixas urinárias no homem adulto

As queixas relacionadas com a micção são algo comum no sexo masculino e a sua frequência aumenta com a idade, diminuindo de forma significativa a qualidade de vida.

Até há alguns anos, a próstata era tida como a principal responsável das queixas urinárias nos homens, no entanto, o melhor conhecimento da fisiologia miccional permitiu perceber que os distúrbios da micção, mais do que resultantes da disfunção de um órgão, são na maioria das vezes resultado do desequilíbrio na interação entre bexiga e a próstata.

Os sintomas miccionais podem apresentar padrões mais ou menos definidos, mas costumam associar-se às 2 fases do funcionamento da bexiga: a fase de enchimento (também dito armazenamento) e a fase de esvaziamento.

As queixas relacionadas com o armazenamento referem-se ao aumento do número de vezes que o doente necessita de urinar ou à dificuldade em controlar a vontade de urinar, podendo culminar em perdas involuntárias de urina.  As queixas relacionadas com o esvaziamento são o enfraquecimento do jato urinário, a hesitação para começar a urinar que por vezes obriga a esforço abdominal e até a impossibilidade de urinar mesmo com a bexiga muito cheia (retenção urinária aguda).

Além do impacto na qualidade de vida, os distúrbios miccionais podem representar riscos para a saúde dos doentes, nomeadamente, a hematúria (presença de sangue na urina), a retenção urinária aguda, as infeções urinárias, os cálculos vesicais e a insuficiência renal.

A avaliação clínica começa pela caracterização dos sintomas (estimando-se também a sua intensidade e impacto na qualidade de vida) e a realização do exame físico com avaliação da morfologia dos órgãos genitais externos e a palpação da próstata (que permite ter uma noção aproximada do seu volume e, sobretudo, despistar outras características que façam suspeitar de neoplasia). A investigação básica consiste num estudo analítico da urina e da função renal e doseamento do PSA. Em alguns casos, pode ser necessário complementar o estudo com outros exames, incluindo ecografia, endoscopia ou estudos urodinâmicos.

Existem hoje diversas alternativas para tratar os sintomas miccionais. A primeira questão a colocar será mesmo a da real necessidade de tratar – homens pouco sintomáticos e pouco incomodados, sem nada que prenuncie uma evolução desfavorável, podem passar bem sem qualquer medicação até que as queixas se agravem. Quando a intensidade ou o incómodo destes sintomas carece de tratamento, a primeira linha do tratamento costuma ser com medicamentos adequados ao tipo predominante de sintomas, ao invés de atender apenas ao volume da próstata. Homens com queixas mais relacionadas com o esvaziamento da bexiga podem ser tratados com alfa-bloqueantes, que relaxam o colo da bexiga e o componente muscular da próstata (silodosina, tansulosina, alfuzosina, doxazosina, terazosina). Já homens com queixas mais relacionadas com o enchimento da bexiga podem beneficiar de tratamento com antimuscarínicos, que reduzem as contrações indesejadas da bexiga (solifenacina, darifenacina, tróspio…). Os medicamentos habitualmente usados para tratar a disfunção erétil também já demonstraram ser eficazes contra as queixas miccionais (tadalafil). Quando as queixas tiverem um componente inflamatório, a fitoterapia pode trazer benefícios (serenoa repens) com a virtude de ser quase isenta de efeitos acessórios. Se as queixas se associarem a aumento de volume da próstata, também este pode ser lentamente reduzido com inibidores 5-α-redutase (dutasterida, finasterida).

Apesar desta panóplia de fármacos, nem todos os doentes respondem favoravelmente à medicação e, quando assim é, poderá estar indicada a realização de cirurgia para eliminar a obstrução causada pela próstata ao fluxo de urina. Diversas técnicas estão disponíveis, com vantagens e desvantagens a analisar caso a caso, mas podem dividir-se em dois grupos:

- Cirurgia convencional da próstata, realizada com o objetivo de remover o tecido prostático interior que comprime a uretra, útil sobretudo para o tratamento de casos com próstatas de muito grandes dimensões.

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(Imagem:DR)

- Cirurgia endoscópica da próstata, executada através da uretra com equipamento específico: a ressecção endoscópica é a variante mais comum (RTUP) em que corta o tecido com auxílio de corrente elétrica, podendo também usar-se laser para o mesmo efeito ou para vaporizar o tecido.

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Qualquer destas opções cirúrgicas terá uma elevada probabilidade de impacto sobre a ejaculação, mas o risco de impacto negativo sobre a ereção ou sobre a continência é muito baixo.

Globalmente, a taxa de complicações é baixa e, passados os primeiros dias, a recuperação é rápida e os resultados são melhores do que com medicamentos, mas é fundamental identificar corretamente os candidatos ideais para cirurgia.

 

Dr. André Quinta,
Urologista no Centro de Medicina Física e de Reabilitação da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos
 

SCM Barcelos, 24-09-2021

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